Quando aqui cheguei tudo a minha frente estava negro, nem uma única luz ao fundo do túnel como se costuma dizer, todas as portas que permaneciam cerradas começaram a ranger, tais ruídos punham-me surda, não aguentei aquela pressão que ecoava na minha cabeça sem parar, cai por chão onde sem forças permaneci a espera que tudo a minha volta parasse de girar e aquele som ensurdecedor parasse.
Deixei-me levar sem forças que me restassem para lutar, deixei-me levar para um lugar onde apenas paz reinava e uma luz branca se expandia a minha volta, rapidamente voltei a sentir as forças a voltar a meu corpo, mas não as suficientes para me poder levantar.
Parecia impossível, toda aquela sensação de guerra, ruído, raiva, tristeza, paz, calor e harmonia desapareça e se tornará apenas um sonho do qual nunca me viria a esquecer, um sonho tão real como o sangue que me corre na veias e a chuva que me cai sobre a cara. Sim era apenas um sonho, um sonho no qual me perdi e encontrei, no qual vaguei sem rumo encontrei caminho. Levanto-me daquele banco de rua onde tivera permanecido toda a tarde, meu olhar curioso procurava abrigo da chuva que me encharcara as roupas, que agora estavam largas e pregadas á meu corpo, lá encontrei um pequeno abrigo onde me escondi rapidamente.
Peguei no meu último cigarro que acendi com o ultimo lume que o meu isqueiro deu. Desfrutei dele até a ponta, assim que acabará o cigarro dirigi-me para uma pequena praia desertada e quase sem areia onde por pés devido a maré que subira, sentei-me nas pedras molhadas onde fiquei até um raio de sol me acertar na cara. Olhei para cima onde o céu estava coberto de nuvens, todas com formas diferentes, uma delas parecia ter escrito nela uma palavra duma canção que nesse mesmo dia ouvira na rádio.
Ninguém me tinha dito que poderíamos gostar tanto de uma melodia que mal conhecemos, que poderíamos permanecer com ela na cabeça ate ao anoitecer. Ninguém me tinha dito que por detrás de cada uma das frases que era cantada havia um significado único que se assemelhava a uma parte da vida.
Chegou a hora de partir para longe daquele lugar, de me secar e vestir algo quente e confortável. Decidi por razoes inexplicáveis, ou talvez tivessem explicação, comprar um último maço de tabaco antes de regressar a casa. Desse mesmo maço, retirei outro cigarro que me parecia o ultimo mas apenas era o primeiro, não tinha como acende-lo, tive de pedir aos jovens com menos de 16 anos que estavam por ali que me emprestassem. De regresso a casa, já ia o maço apenas com 10 cigarros, apaguei o meu ‘ultimo’ daquele dia e subi para meu apartamento quase vazio, despi então todas as peças de roupa encharcadas que tinha no meu corpo, tomei um prolongado banho onde apenas a espuma me fazia sonhar.
Mil e uma razões me fizeram sair de casa daquele mórbido dia que pretendia aproveitar e acabei por gastar sem propósito.
Agora pergunto-me:
seria eu capaz depois de tudo, matar-me...?