Carta


Abocanhas-me com aliciantes cânticos românticos que me embalam doce coração coberto de lágrimas e tristezas, prolongas-me esperanças adormecidas que transbordam como num rio de emoções escondidas, trancadas, arrumadas, para nunca mais serem descobertas. Logo vieste tu, que com essa tua voz os soltaste sem piedade nem dó.
Que devo fazer? Fico… vou... deixo…
Caminhos. Tantos deles têm que escolher. Nada é tão fácil como parece, nada é tão difícil como o tentamos fazer. Então porquê tanta confusão? Porquê tanta tristeza, amargura, frieza, simplesmente porquê tanto sofrimento se tudo poderia ser tão fácil? Se quando temos ansiamos por mais e não valorizamos, mas quando perdemos choramos e suplicamos para ter de volta… Apesar de sabermos que não há volta a dar por mais que queiramos, o que está feito está feito. Não vale a pena complicar mais.
Mas a natureza humana tem tendência a distorcer, complicar e atrapalhar o simples. É genético.


And when the time comes let’s just hold hands and pray for forgiveness.



Nunca pensei amar alguém como te amo a ti. Nunca pensei esquecer alguém por outro alguém como tu, e nunca pensei em viver por alguém como vivo por ti. São palavras arrancadas a sangue frio de meu coração sem, dó nem ardor. São palavras que anseiam sair por minha boca, directamente para a tua, como se de um penso rápido se tratasse. É tão simples, mas tão complicado. É tão complicado que se torna tão simples.

Atrapalho-me nestas linhas, fios e mistérios que se envolvem à minha volta numa tentativa de me fazerem caír, nas quais tantos caíram e onde não serei a última nem a primeira a fazê-lo, pois também já tive a minha dose de quedas intencionais, e outras por falta de precauções. E o bom ditado bem diz ‘mais vale prevenir do que remediar’. Sempre concordei com este e muito outros, tenho tendência a dar bom uso a frases populares, existem sempre segundas intenções por de trás de cada uma mesmo que não pareça. A escrita não foi feita para mim, apesar de me entreter e deslumbrar com as metáforas e não só, que escondem desejos ou malícias.
Desviei-me um pouco do tema antes abordado, talvez porque não quero revelar mais do que já até aqui está revelado. Porque tenho vergonha de me expôr, de exprimir o que sinto quer seja raiva ou amor. Não importa, apenas um místico nevoeiro se levanta quando tento expôr algo demasiado pessoal.


And then she lost her mind and she cried all night. Can you see it inside of me, my deepest wish of loving you all my life? Just you and me in the deep blue sea.

Oh why boy oh why? Why the fuck did you unlock my feelings why such joy?

Oh why oh why did I break and let it escape? Oh why oh why my dear boy do you like so much my perfume on your bed... oh why oh why do I love to be in love with a boy who unlocks things with such joy?



Tristes memórias as minhas, que soltas vagueiam em linhas… tristes tristes vizinhas que acompanham misérias das janelinhas.

Cuscos olham para alheios que observam desordeiros onde a hora toca e nada se desloca. Maleável a espreita na toca, ficas tu de olho à coca. Neste dia sombrio nada me toca, nada te toca, somos intocáveis quando a hora nos toca. Nestas rimas te ris, ris-te de mim. Não olhes mais, tenho vergonha dos demais. Porque tencionas continuar a caminhar se andas às voltas no mesmo lugar? Tira tiras de memória, guarda tudo numa aleatória. Não faço sentido, dizes tu sem fim… Olha que para mim é bem mais claro que o cheiro de alecrim.

Sabes que mais? Lágrimas derramam de tanto desamor, amas, amas… mas no fim só desamas. Não tenhas tantas tramas! Tramado amor me deste de mão beijada, mas com tanto ardor aceitei de tão bom humor.

Não receias tu ficar sozinho? Eu receio. Tanta vez que me aproximo daquela porta encostada, de luzes apagadas onde nada se vê, só um assobio do vento a ranger na janela. Aquela espécie de sótão vazio - vazio como quem diz! - cheio de papeis, quadros, roupas e outras velharias… Mas quando o pôr do sol se põe, quando o pequeno fecho de luz que existe àquela hora passa por entre tal janela e bate sobre uma pequena cadeira de embalar feita de ferro preto, uma caixinha fechada se descobre. Por fora é apenas madeira com desenhos a branco, roxo e lilás, simples. Mas há quem já me tenha dito, quem já a abriu, que no seu interior existe a melodia mais linda à face da terra, doce e aconchegante; cartas escritas de linda caligrafia antiga onde romance não falta. Houve até quem já me tivesse dito que nada é igual àquela caixinha. Poucos encontram a chave, que está bem escondida.

Tenho medo de lá entrar, mas a curiosidade é maior que o medo. Passo a passo vou me aproximando, devagarinho… passinho a passinho, parece que tinha entrado em propriedade alheia, e com medo de ser descoberta caminho lenta e silenciosamente pelo soalho de madeira já gasto com o tempo. Não me aproximo da cadeira, tenho medo de não ter a chave certa… Alias, quem a tem nem sou eu, és tu. Podia pedir-ta emprestada para espreitar lá para dentro, mas dizes que não, que vem tudo a seu tempo. Sabes bem o quanto sou impaciente, esperar nunca foi do meu ser.
Contigo aprendi a ser o que não era. Não me arrependo porque me fizeste crescer. Cresci, mas só por dentro. Não preciso de o demonstrar.

Não sei se me sento, não sei se me vou embora. O que é certo é que já esta na hora, na hora de ir dormir, na hora de ir sonhar. Devagar me afasto daquele lugar. Estou fascinada, admito sim senhor.
Aquela caixa… o que terá lá de tanto mistério? Nunca irei saber até, finalmente, te poder ver.




p.s.: era tudo o que te queria dizer


Charlotte.

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